Cotações por TradingView
Via de regra todo começo de ano costuma ser mais calmo, pouca coisa acontece e nos mercados financeiros os agentes estão discutindo qual será o grande tema do ano, além do fato de que muitos gestores ainda estão de férias.
Porém, 2022 começou bem agitado e com os mercados globais sentindo uma certa ressaca dos super retornos de 2021.
Os dados impressionam quando comparamos o ano passado e o que vimos até agora em 2022: S&P500 subiu 29%, e nesse janeiro ainda não finalizado já perdeu quase 8%; o ARK ETF, uma cesta com as tech stocks (as famosas empresas de tecnologia, como Tesla, Zoom, Spotify, Shopify etc), que chegou a subir mais de 150%, já começou o ano vomitando 24%. Não faltou nem pro Bitcoin, que já recua 25% no ano.
Veja, graficamente, como a queda aconteceu nesses três citados! O gráfico abaixo está em escala 100 desde o começo do ano, cada 1 ponto = 1%.
A principal hipótese é o fato de que os juros globais vão subir em 2022 e vai ser um processo rápido, ao mesmo tempo que a farta liquidez injetada pelos Bancos Centrais (um dos que mais fez isso foi justamente o FED, dos EUA) no combate à pandemia também começará a ser reduzida.
O motivo é simples: as economias já estão próximas ou até já superaram os níveis de atividade econômica pré-covid, ao mesmo tempo que a inflação global está nos maiores níveis das últimas décadas. Em texto recente aqui no blog discutimos a inflação americana que é a maior desde os anos 80!
Como a taxa de juros é o preço do dinheiro, se o preço de algo sobe, naturalmente a sua demanda diminui e, com menos liquidez sobra menos dinheiro para apostar em ativos arriscados. Soma-se a isso o fato de que o custo do dinheiro que era zero nas principais economias vai passar a subir.
Existe uma imensa quantidade de ativos que “surgiu” ou ao menos se tornou viável nesse mundo que, pelo que tudo indica, pode começar a ser revertido nessa década.
Tomemos como exemplo a economia americana, que tem uma taxa de juros de 0% hoje: o mercado espera que ao longo de 2022 a taxa suba 4 vezes consecutivas, o que faz com que os juros terminem o ano próximos de 1%.
Parece pouco, mas é um aumento brutal no custo do capital. O gráfico abaixo mostra quantas “subidas” o mercado espera para o Banco Central americano em 2022. Note também que no começo do ano eram esperadas 3 subidas e agora o mercado já espera pelo menos 4 – o que é mais um indicativo de como a enorme liquidez na qual estamos inseridos pode começar a ser revertida mais rápido do que se imaginava.
Outra conta que o investidor faz quando precifica uma ação, como as de tecnologia, por exemplo, é que a maioria delas não dão lucro hoje. Porém como são empresas com tecnologias disruptivas e que estão sendo adotadas rapidamente, os investidores apostam que no futuro elas darão lucro e já embutem isso no preço das ações.
Mas é importante lembrar que dinheiro no futuro precisa ser trazido a valor presente, ou seja, corrigir pelo custo de oportunidade de ter esse dinheiro parado nessas ações. Esse custo é corrigido sempre pela estimativa futura da taxa de juros. E se a taxa de juros futura está subindo, o custo de oportunidade de ter essas ações também sobe!
Em outras palavras: é muito mais fácil “apostar” em empresas que terão um futuro glorioso mas ainda não lucram hoje quando os juros são virtualmente zero, mas todas as vezes que eles sobem ou há expectativa de que subam, os investimentos que possuem rentabilidade voltam a chamar mais atenção. Essa movimentação enorme que verificamos nesse mês, que ainda nem acabou, é reflexo de como o mercado está se posicionando exatamente por isso.
O próximo gráfico é uma combinação dos dois primeiros para ficar claro quando a expectativa de juros futuros sobem, o que acontece com os ativos arriscados. No eixo da esquerda o número de subidas de juros embutidos pelo FED e na direita os ativos em base 100.
Note que, conforme o mercado começou a aumentar as expectativas de um maior aperto monetário (mais juros) ainda em 2022, os demais ativos começaram a cair, mostrando que as hipóteses que descrevemos acima possuem aderência com o movimento do mercado.
Essa é certamente uma das perguntas mais valiosas para quem está observando os mercados agora. Possivelmente a previsão mais pessimista até agora é de Jeremy Grantham, investidor que há muito tempo sinaliza que vê uma enorme bolha se formando: para ele, o S&P500, que fechou a semana passada nas proximidades dos 4400, poderia cair quase 50% e isso significaria que sua tendência real seria ao redor de 2500 pontos.
No fim das contas é muito difícil prever até onde esse movimento de baixa vai, mas certamente terá relação direta com as próximas sinalizações e ações do FED, conforme temos alertado aqui nesta coluna há um certo tempo.
Importante também lembrar que, apesar de toda essa comunicação a respeito do fim da festa da liquidez, o que foi colocado nas economias globais é colossal. Certamente não faz sentido imaginar que isso tudo será tirado de circulação em um prazo muito rápido. Possivelmente é algo que deve afetar – e provavelmente estar no centro das atenções – até o final dessa década.
O impacto disso tudo para o Brasil é parecido com o que ocorre com os demais emergentes: toda vez que a liquidez deixa de ser abundante, a necessidade de escolher faz com que o dinheiro acabe parando em locais considerados mais seguros e amistosos a isso e menos em locais arriscados.
Ainda assim, onde muito barato estiver, pode ser que se torne irresistível de não estar. E, o Brasil, na contramão de todo esse movimento verificado nos EUA, tem apresentado resultados positivos nesse mesmo período – dos fogos da virada de ano até agora.
São muitas as razões. Algumas delas abordaremos aqui em breve!
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